João Baptista Herkenhoff: Libelo contra a fome

No dia 9 de Agosto de 1997 faleceu Betinho, Profeta contra a Fome.

           No artigo de hoje, publicado nas proximidades desta data, cabe refletir sobre a fome.

            Existem presentemente cerca de um bilhão de pessoas subnutridas no mundo.

           As pessoas que passam fome, em sua maioia, são mulheres e crianças.

            As mortes por fome, segundo dados da ONU, suplantam as mortes por sida, malária e tuberculose somadas.

            Insufiência alimentar na infância provoca danos irrecuperáveis para sempre.

            Por este motivo a fome é a mais violenta negação dos direitos humanos.

            Aparecem recursos para acabar com doenças que, nos países pobres, ameaçam, pela contaminação mundial,

            a saúde dos ricos da Terra.

            Por que não se tomam medidas para acabar com a fome?

            Por que a Humanidade terá de transpor um novo milênio carregando, nos ombros, a imoralidade e a antijuridicidade da fome?

            Grande Josué de Castro, que merece estátuas modeladas em ouro, em bronze, ou simplesmente em pão, em todos os Horizontes e em todos os Continentes, inclusive na sede da ONU!  

            Belo profeta brasileiro que denunciou, com pioneirismo, as causas sociais da Fome. 

           Josué de Castro mostrou a fome como “problema social”. 

           Graciliano Ramos, nos seus romances, retratou a fome como problema político. 

           A fome não brota do céu.  A fome tem causas na terra, nas injustiças imperantes.

           Josué e Graciliano sofreram exílio e prisão por dizer uma verdade óbvia.

            No Brasil deste século, a grande figura profética, na luta contra a fome, foi o sociólogo Herbert de Souza,

           ou simplesmente o Betinho, como ficou carinhosamente conhecido.

            A fome tem pressa, disse Betinho, com extrema racionalidade. 

           Condenado a morrer, Betinho lutou, até o último momento, pela vida. 

           Mas não tanto pela sua vida, lutou muito mais pela vida do povo brasileiro, dos marginalizados e oprimidos,

           dos que são massacrados pela injustiça brutal que é a fome.

            Não poderia haver, na sociedade brasileira contemporânea,

            figura que pudesse simbolizar melhor esse grito contra a fome.

            Betinho estava predestinado para ser o líder da cruzada que empunhou.

            Morto Betinho, a luta deve continuar. 

            E deve continuar com mais vigor ainda, sob a chama da vida de Betinho,

            sob a inspiração deste ser humano incomum que, com muita razão, Frei Leonardo Boff proclamou como “santo”.

            Que se multiplique por este país, de todas as formas possíveis, o eco ao apelo que Betinho fez,

            em nome dos que não têm calorias nem para protestar.

            A miséria degrada a condição humana.

            E o faz com tanta violência que torna difícil para o miserável a luta por outros direitos que não apenas o de comer.

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