Filha de Glauber Rocha relata luta com secretaria de Cultura para salvar acervo do pai mesmo antes do incêndio na Cinemateca: ‘Até que pegou fogo’

Leia relato de Paloma Rocha. Ao menos 100 caixas estavam no prédio que pegou fogo. Ela afirmou ao G1 ter conversado duas vezes com Mario Frias, secretário especial de Cultura, nos últimos meses, mas que ele não a atendeu ontem. Em março deste ano, descobriu que o material já havia sido atingido nas enchentes de fevereiro de 2020.

Marília Neves

Parte do acervo do cineasta Glauber Rocha estava no galpão incendiado da Cinemateca Brasileira. A informação foi confirmada ao G1 por Paloma Rocha, filha do cineasta baiano. Veja os 5 principais pontos logo abaixo, e leia a conversa a seguir:

  • Ela diz que 300 caixas do acervo de Glauber estavam com a Cinemateca. Destas, ao menos 100 estavam no galpão da Vila Leopoldina, que pegou fogo. O resto estava na sede da Cinemateca na Vila Clementino.
  • Mesmo antes do fogo, 100 caixas foram molhadas na enchente que ocorreu em 2020, na galeria da Vila Leopoldina, conta Paloma.
  • Paloma diz que tinha conversado duas vezes nos últimos meses com Mario Frias, secretário especial de Cultura, sobre o acervo, que estava sem documentação.
  • Entre essas conversas, ela descobriu que as caixas foram molhadas e, desde então, ligava para a secretaria toda semana, mas não conseguiu uma solução efetiva. “Até que ontem pegou fogo”.
  • Ela diz que ontem, ao saber do incêndio, ligou para Frias e ele não atendeu. “Em seguida, soube ele estava em Roma, falei com Hélio Ferraz [Secretário Especial Adjunto da Cultura] que não conseguiu dizer uma palavra, porque eu lhe disse boa parte do que eu te disse, só que aos urros”, diz a cineasta, inconformada.

“Fiquei muito abalada. Ontem tive uma crise de choro e desespero sem saber o que estava acontecendo”, lamentou Paloma.

Na noite desta quinta-feira (29), um incêndio atingiu um galpão da Cinemateca Brasileira na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo. Segundo informações dos bombeiros, o fogo começou quando uma empresa terceirizada fazia manutenção do ar condicionado. Não houve vítimas.

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A cineasta explicou que, em 2016, todo o material do Tempo Glauber foi enviado para a Cinemateca Brasileira após o instituto ser despejado de sua sede no Rio. Na ocasião, Paloma conta que fez a transferência de 300 caixas.

“Dentre elas, a biblioteca do Glauber e toda a documentação do Tempo Glauber. Todas as teses, cartazes originais, croquis dos cartazes do ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’ desenhados por Glauber e Rogério Duarte. Estudos do ‘Cabeças Cortadas’, um material precioso de 1959, xilogravuras de Caribé, desenhos de Calazans Neto. Ou seja toda uma geração que foi formada naquela época com Geraldo Del Rey, Orlando Senna, por Helena Ines, a minha mãe”, citou Paloma, emocionada.

Parte desse material foi para o galpão da Cinemateca da Vila Leopoldina, que pegou fogo na noite desta quinta-feira (29). Outra parte, está na sede da Cinemateca na Vila Clementino.

“O Tempo Glauber era dividido em Fundo Glauber Rocha e Tempo Glauber. O Fundo Glauber Rocha tinha ido para a Cinemateca Brasileira [da Vila Clementino] e está preservado. Não queimou. Ainda. Pode queimar hoje”, lamentou, temendo que o acervo sofra nova perda.

Da perda atual, Paloma enumera: “O que pegou fogo ao que se refere ao Glauber: toda documentação do Tempo Glauber, o restauro dos filmes, os catálogos internacionais, as teses, cartazes originais, esse material todo da Bahia que já citei, isso tudo pegou fogo ontem.”
Paloma destaca que, no período entre 2003 e 2010, fez um trabalho de recuperação e digitalização do trabalho do pai.

“Eu tenho tudo digitalizado. Aqui, na [sede da] Cinemateca Brasileira, na casa de um amigo, no Arquivo Nacional e agora na Bahia. Porque eu sou paranoica. Paranoica, não. Eu trabalho com preservação.”

“A sorte é que eu tenho tudo isso guardado. Sorte ou resultado de anos do meu trabalho. Porque trabalho com preservação e trabalho com preservação da obra de meu pai, porque ela em si já é muita coisa.”

Apesar disso, na tarde desta sexta-feira (30), Paloma descobriu que o material que tem digitalizado é o que ainda está preservado na sede da Cinemateca da Vila Clementino. A parte queimada no incêndio foi perdida completamente.

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