Anel Viário de Humaitá tem potencial para incrementar economia, mas impacto ambiental preocupa especialistas
Obra aponta o modelo de desenvolvimento econômico que o governo vislumbra para o sul do Amazonas
O Anel Viário do município de Humaitá promete colocar o sul do Amazonas na rota da soja do Brasil. Com previsão de conclusão para dezembro de 2021, a estrada tem o objetivo de desviar da área urbana de Humaitá (a 675 quilômetros de Manaus) o trânsito de caminhões carregados de grão vindos de Porto Velho (RO) pela BR-319 e BR-230 com destino ao porto graneleiro daquele município. No entanto, as obras geram preocupações em relação ao risco de aumento do desmatamento e os impactos que isso pode causar ao meio ambiente.
O tema é o destaque do informativo mensal do Observatório BR-319, que divulga notícias da área de influência da BR-319, além do monitoramento completo com números do desmatamento e focos de calor na região. O material pode ser acessado no site www.observatoriobr319.org.br.
Com 11,58 quilômetros, o Anel Viário de Humaitá tem o valor de R$ 51.835.126,77, financiado pelo Governo do Amazonas com recursos do Tesouro do Estado, do Programa de Apoio às Despesas da Capital (Prodecap) e do Programa de Infraestrutura para criação de Oportunidades no Amazonas (Proinfra).
Para a secretária-executiva do OBR-319, Fernanda Meirelles, a construção do chamado ‘Cinturão da Soja’ demonstra o modelo de desenvolvimento econômico que o governo do Amazonas deseja para a região. “Um investimento como este, ainda que modesto, mostra que o interesse do governo não está na vocação que a região tem para a bioeconomia, mas sim no agronegócio”, avalia.
Até o momento, as obras do anel viário desapropriaram 58 imóveis e terrenos da área. As indenizações aos moradores totalizaram R$ 4.384.259,72 de acordo com a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Região Metropolitana de Manaus (Seinfra).
Setores interessados, como o do agronegócio, argumentam que o investimento vai estimular a economia de Humaitá e que o município tem vocação natural para a agricultura. Os campos naturais da região, que chegam a 560 mil hectares no sul do Amazonas, são vistos como alternativas para uma produção agrícola sem precisar derrubar a floresta. Mas o doutorando em Botânica pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Layon Oreste Demarchi, alerta que esses campos são importantes para a conservação da floresta amazônica.
“Os campos, em especial as campinaranas, não são ideais para a prática da agricultura e nem exploração madeireira, pois são pouco resilientes e de delicado equilíbrio. Essas práticas provocariam o desequilíbrio do ciclo hidrológico e de carbono das campinaranas, contribuindo ainda mais para o colapso climático em curso, além de gerar uma agricultura de baixo rendimento, restrita a poucas culturas agrícolas”, diz Layon.
De acordo com a Diretoria Técnica do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), o Anel Viário de Humaitá não passa por nenhuma Unidade de Conservação ou Terra Indígena, mas tem medidas de mitigação ambiental por se tratar de uma grande obra.
Projetos para a BR-319
O informativo de novembro do OBR-319 também traz informações sobre as passagens de fauna que serão construídas no Lote C da rodovia pela ViaFAUNA. As estruturas serão criadas para evitar atropelamentos e diminuir o impacto do trânsito de veículos na circulação de animais silvestres na rodovia. Outro tema abordado é o relatório ‘BR-319: análise dos processos judiciais sobre a rodovia’, elaborado pelo Centro de Direitos Humanos e Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV CeDHE). O levantamento tem o objetivo de informar a população e garantir transparência às decisões que envolvem a rodovia.
Observatório BR-319
O Observatório BR-319 é formado pela Casa do Rio, Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Fundação Vitória Amazônica (FVA), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), WCS-Brasil e WWF-Brasil. Para saber mais, visite www.observatoriobr319.org.br