Francisco Alves: O Rabiola

Raimundo Kleber de Oliveira Alves. Titio nenêm, para os membros da família Alves, rabiola para os amigos do bairro do laguinho, ou, simplesmente Kleber para a comunidade em geral. Ontem, por volta das 22 h. O titio nenêm encerrou sua jornada neste plano.

Quem foi o titio nênem? Para os meninos da família Alves era o tio porradeiro, especialista em brigas de rua. Para outros, ora era um artista da música, ora era um artista plástico….para o mais chegados era, simplesmente o rabiola. Por que, rabiola? Porque era meio doidinho o meu tio, era uma pessoa feliz, que contagiava, com sua alegria, os ambientes por onde passava.

Mas eu gostava mermo era do tio porradeiro, porque ele me livrava de apanhar dosotros moleques. Bastava eu dizer que fulano estava me ameaçando, que ele ia lá e metia a porrada no cara. Eu nunca vi ele apanhar de ninguém. Além disso, também era nosso treinador e tentava, sem muito sucesso, fazer com que a gente também aprendesse a brigar.

E botava a gente pra brigar com os outros garotos. Eu lembro de uma briga minha, em que eu estava levando vantagem sobre o outro moleque, com o tio nenêm, acompanhando de perto a briga, só para se certificar, que eu não ia perder. Ele gritava: bate a cabeça dele na parede, chico. Faz esse cara pedir lona! ( em tempo: pedir lona, naquela época, era desistir da briga, amarelar. O que dava para o oponente o título, irrefutável, de vencedor. Acontece que o moleque mesmo apanhando, não estava a fim de desistir da briga e eu já estava com pena e, ao mesmo tempo cansado, de bater nele. Então fiz uma coisa imperdoável para o meu tio. Chorei. E desisti da briga. O titio ficou indignado. E eu fiquei aliviado. Bater nos outros nunca foi, realmente, a minha

Ontem eu recebi um vídeo, em que o meu tio agonizava em um leito do hospital de emergência. No mesmo instante, mesmo tendo passado, recentemente, por uma cirurgia para colocar uma prótese no quadril, dobrei os joelhos e rezei. Pedi para o papai do céu abreviar o sofrimento do meu tio. Não demorou muito e o tio nenêm partiu. Eu lembrei das rabiolas. As vezes acontece um fenômeno que deixa os moleques putos da vida com DEUS. É quando a rabiola pega “penura” como a gente diz e, simplesmente, não cai. Some no céu, para a indignação geral da molecada. Que nem o titio. Agora deve estar aprontando das suas lá pelo céu. No mínimo já deve ter apelidado o papai de chaparral. O papai ficava muito puto quando ele o chamava de chaparral. É que o papai gostava de ficar atirando nas pessoas. Aí ele o apelidou de chaparral. Esse meu tio era atentado. Mas todo mundo gostava dele. Por isso, mesmo cerrado ao meio, eu fiz questão de ir lá, render minha última homenagem e pedir para ele me dizer se por lá existem cabarés bacanas com cela e tudo….é, porque se for só aqueles anjinhos tocando harpa, eu nem vou também pra lá…

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