Especialistas comentam impacto do uso dos ‘auxílios’ na campanha de Bolsonaro

Malu Dacio – Da Revista Cenarium

MANAUS — A avaliação do trabalho do presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo pesquisa do Poder Data realizada nos primeiros dias de 2022, anda abalada e é considerada ruim por 57% dos brasileiros. A baixa popularidade cresce desde 2020 e uma das alternativas para atingir melhor desempenho, principalmente em classes sociais mais baixas, foram os auxílios emergencial e Brasil. 

A CENARIUM ouviu especialistas que explicaram os principais impactos econômicos dos amparos, as diferenças entre o Auxílio Brasil e o extinto Bolsa Família e o que isso pode mudar na corrida presidencial deste ano.

O economista José Salomão Laredo afirma que a principal diferença entre o Auxílio Emergencial e o novo Auxílio Brasil está no valor unitário maior e ao universo ampliado em relação ao benefício original.

“Haverá um aumento do consumo das famílias que impactará no PIB, mas a mensuração do impacto vai depender de outras variáveis como: o quanto de elevação da produção de bens e serviços será necessária para atender essa demanda adicional, mas com certeza contribuirá para o PIB por causa da arrecadação adicional que ela (demanda) vai gerar”, diz.

Para o economista, o auxílio com maior valor unitário é um instrumento de distribuição de renda válido para atenuar as desigualdades sociais. “Em ano eleitoral, não há dúvida que contribui a favor do candidato”, afirma.

Fim do Bolsa Família por questões políticas

A economista, professora e consultora de empresas Denise Kassama defende que o Auxílio Brasil não deixa de ser uma repaginada do Bolsa Família. “Por questões políticas, o governo opta por trocar o nome, para imprimir uma marca própria”, comenta.

Para a economista, a principal diferença entre os projetos é o tempo de abrangência. Enquanto o Auxílio Brasil encerra em dezembro de 2022, o Bolsa Família era um programa perene.

“O Bolsa Família era um importante programa de geração de renda e inclusão social. Além disso, era reconhecido, mundialmente, e é evidente que na medida que proporciona a inclusão social por meio dessa renda, ele movimenta a economia. A pessoa que passa a ter uma renda, agora de R$400, vai consumir no comércio, que vai, dependendo da demanda, precisar contratar pessoas, aumentar as compras junto aos fornecedores, então vai gerar emprego em toda uma cadeia de fornecimentos e, portanto, vai movimentar as economias”, conceitua.

Denise lembra que os anos de pandemia deixaram a renda do brasileiro bastante comprometida. “Entendo que seja estratégico, por parte do governo federal, fazer isso agora que estamos entrando aí no período eleitoral”, lembra.

Porém, a economista acredita que apesar das tentativas de ações populistas de Bolsonaro, não deve ocorrer impactos grandes ou relativos. “As outras relações sociais do governo estão tão deterioradas, o governo está tão desgastado na questão do combate à Covid-19 e outras políticas sociais, que nenhum auxílio de R$400 vai ser suficiente para recuperar a credibilidade deste governo”, afirma.

Denise, entretanto, salienta que com certeza os auxílios devem ser um dos principais tópicos da campanha. “Acredito que o Auxílio Brasil vai ser uma das principais ferramentas que o governo vai utilizar para a campanha de reeleição”, comenta.

Auxílio Emergencial e os invisíveis descobertos

O consultor Econômico e professor universitário Mourão Júnior defende que a pandemia agravou um processo social que já estava preocupante. “O Brasil voltou a configurar o mapa do crescimento da faixa da população que está em pobreza extrema. Essa população que está no risco e ficou sem renda. Talvez não totalmente por conta do auxílio emergencial. Mas ficou com a renda bastante comprometida”, analisou.

Ele descreve que se a pessoa não tem renda ela não compra, se ela não compra, a empresa não produz. “A parte importante do auxílio emergencial está aí: fornecer a renda, para aquelas pessoas, principalmente, que foram ‘descobertas’ na hora dos cadastros. Se descobriu que existiam pessoas até chamadas, infelizmente, de invisíveis. Elas não apareciam para o Estado, não tinham documentos nenhum. Essas pessoas não têm renda”, criticou.

Mourão defende que o programa criado na pandemia foi essencial para que o Brasil não tivesse uma queda no Produto Interno Bruto (PIB) tão grande como nos outros países.

“Uma das críticas era de que seria uma despesa grande para o Estado, que teria de aumentar a arrecadação. Mas, em contrapartida, vendo a questão do próprio conceito de renda, quando você compra, gera produção e isso gera um aumento da produção e, consequentemente, um aumento da arrecadação de impostos”, afirma.

E o economista defende que essa tem que ser a visão. “Também é refletida nos números. Tanto que, né? No PIB de 2020, que foi um PIB negativo de -4,1%, se for comparado com o PIB de outros países que não utilizaram esse programa abrangente de renda, tiveram até -10%. A previsão de fechamento do PIB de 2021 é em torno de 4,5%”, explica.

Impactos sociais 

O professor e sociólogo Luiz Antonio Nascimento afirma que esses programas são importantes para a sociedade. “É uma renda que é captada pelo Estado, por meio de impostos, e que volta para parte da população mais miserável de uma forma muito pragmática, muito direta”, explica. 

Para o sociólogo, o destaque é que quem recebe não guarda esse dinheiro, mas o devolve para a circulação econômica. “Volta para a sociedade, porque essa pessoa que recebe não guarda, não bota embaixo do colchão ou dentro do banco, ela vai gastar esse dinheiro, então, ela vai fazer a economia circular ainda que de forma tímida”, finaliza.

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