O que observar para saber se o óleo essencial é de qualidade?
Mercado sem regulamentação específica facilita circulação de produtos adulterados e põe consumidores em risco
Casos de intoxicação por óleos essenciais adulterados são uma realidade no Brasil. Em fevereiro deste ano, uma adolescente foi internada após ingerir óleo de limão-taiti que causou inflamação no esôfago e gastrite. A paciente teria sido estimulada por uma vendedora a beber gotas do produto para emagrecer, sem saber dos riscos envolvidos, conforme informações divulgadas pela imprensa.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não possui legislação específica para óleos essenciais. Os produtos são classificados como alimentos, cosméticos ou fitoterápicos, dependendo da destinação. Essa lacuna regulatória abre espaço para adulterações que comprometem não só a eficiência do produto, mas também a segurança dos consumidores, segundo estudo publicado pela Revista Fitos da Fiocruz, em 2024.
A adulteração de produtos, seja por meio de misturas com substâncias sintéticas ou diluições com óleos mais baratos, pode provocar desde alergias até intoxicações graves.
“O conhecimento das exigências de produção e comercialização de óleos essenciais é a base para a segurança e eficácia no uso dessas substâncias”, explica a bióloga, aromaterapeuta e co-fundadora da Terra Flor Aromaterapia, Vishwa Schoppan. “Óleos essenciais são compostos bioativos altamente concentrados. A presença de adulterações pode não apenas comprometer os benefícios terapêuticos esperados, mas também gerar reações adversas.”
A recomendação aos consumidores é buscar por óleos essenciais genuínos, 100% naturais, já que qualquer adição de solventes, diluentes ou componentes sintéticos compromete as propriedades do produto.
Rótulo com nome científico é primeiro sinal de produto confiável
Verificar o rótulo é o primeiro passo para identificar um produto de qualidade. Empresas comprometidas com qualidade informam o nome botânico da planta em latim, não apenas o nome popular. A diferença importa: existem dezenas de espécies de eucalipto, cada uma com composição química e propriedades distintas.
“A fidedignidade de um óleo essencial é atestada por alguns critérios, como rotulagem completa e precisa”, afirma Vishwa. “O rótulo deve apresentar o nome botânico completo da planta, também chamado de nome científico, além da parte da planta utilizada, o método de extração, o país de origem, o número de lote e a data de validade.”
Essas informações indicam o perfil químico do produto. Uma lavanda francesa, por exemplo, difere de um lavandin em composição e aroma. O método de extração também altera as propriedades finais. Destilação a vapor e prensagem a frio preservam melhor os compostos ativos, conforme demonstrado em estudo conduzido no Centro Universitário Anhanguera.
Cromatografia funciona como “DNA” do óleo essencial
Para ter certeza da qualidade, as marcas disponibilizam laudos de cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-EM). O teste identifica cada componente presente no óleo essencial de lavanda ou em qualquer outro produto, revelando adulterações impossíveis de detectar apenas pelo aroma.
“A análise de Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massas é o ‘DNA’ do óleo essencial”, explica Vishwa. “Ela detalha a composição química do óleo, confirmando sua pureza, a ausência de adulterantes e a presença dos componentes bioativos esperados.”
O estudo publicado na Revista Fitos confirma que empresas comprometidas realizam cromatografias regularmente. O teste ainda detecta desde diluições com óleos vegetais até adições de moléculas sintéticas idênticas às naturais – ambas fraudes que podem enganar até consumidores experientes.
Embalagem e preço são aspectos que devem ser considerados
A embalagem também oferece pistas sobre a qualidade do produto. Frascos de vidro âmbar, verde ou azul-cobalto protegem os óleos da degradação pela luz. Embalagens de plástico são incompatíveis com óleos essenciais, porque os compostos aromáticos reagem com o material, contaminando o produto.
Outro indicativo de possível fraude são preços muito baixos. Para produzir um litro de óleo de rosa mosqueta (extraído das sementes), são necessários de 14 a 25 quilos de sementes. O óleo essencial de rosa damascena (extraído das pétalas), por sua vez, exige entre 3 a 4 mil pétalas para produzir um quilo do produto final.
“A produção de óleos essenciais puros e de alta qualidade exige grande quantidade de matéria-prima e processos rigorosos, o que se reflete no custo”, alerta Vishwa. Valores incompatíveis com esses custos de produção indicam adulteração.
Certificações garantem segurança do produto
Produtos com certificações oficinais, como Orgânicos do Brasil, emitido pelo Ministério da Agricultura, passam por auditorias periódicas. Para se adequar às regras de qualidade, empresas certificadas seguem protocolos desde o cultivo até o envase. No Brasil, apenas indústrias e farmácias de manipulação autorizadas pela Anvisa podem produzir e comercializar óleos essenciais legalmente.
A reputação do fornecedor é mais um fator que pesa na decisão. Empresas estabelecidas há anos no mercado, com endereço físico e CNPJ verificável, oferecem mais segurança. Sites que disponibilizam informações detalhadas sobre cada óleo, incluindo contraindicações e dosagens seguras, demonstram conhecimento técnico e responsabilidade. “A transparência na cadeia de produção e no fornecimento de informações detalhadas reforça a confiabilidade que construímos no mercado nacional”, pontua Vishwa.

