Diferente
Outro poema musicado pelo meu amigo querido José Maria Pinto Cruz.
Ilustração: Ouro e Sangue, desenho em lápis de cor e folha de ouro, de Keith Richard da Silva Nunes.
DIFERENTE
É o sangue que mancha
Que esguicha,
Que jorra,
É o sangue que borra,
Que corrobora a desgraça.
É o sangue da massa,
Da raça
Que sonha,
Que se acanha.
É o sangue que lanha
Esta terra.
É o sangue que erra,
Que berra, que enterra,
Que cobre.
É o sangue do pobre
Que nem sangue tem.
É o sangue que além
De ser sangue, é vergonha…
Medonha.
É o sangue que morre,
Que corre
Por fora da veia.
É o sangue que enfeia,
Que ateia
A tristeza, a Dor,
O rancor,
É o sangue da cor
Encarnada,
Preta, branca… nada…
Sem cor,
Sem razão.
É o sangue do irmão
Que se mata,
Que mata, que acata
O absurdo.
É o sangue do curdo,
Croata,
Judeu, muçulmano.
É o sangue do humano,
Inumano,
Inocente.
É o sangue do crente
Ou descrente…
Do diferente.
Mas quando se vê derramado,
No chão, misturado,
Pastoso e indecente;
Só existe uma crença.
E só o que se pensa
É que é sangue de gente.
Não há diferença!
Ori Fonseca.