Estudo da flora amazônica reforça importância da biodiversidade

Pesquisa da USP resulta na catalogação de cinco espécies de lianas (cipós e trepadeiras) da Amazônia, uma delas nova para a ciência

Denis Pacheco

Classificar espécies de plantas e entender sua história e origem é uma ciência delicada que, em janeiro deste ano, ganhou destaque em artigo no periódico PhytoKeys. Em pesquisa liderada pelas cientistas Jéssica Nayara Carvalho Francisco, mestranda do Instituto de Biociências (IB) da USP, e Lúcia Garcez Lohmann, professora do Departamento de Botânica do IB, a complexa taxonomia do gênero Pachyptera (do latim, “com alas espessas”), um grupo de lianas neotropicais com sementes aladas, foi destrinchada e resultou na catalogação de cinco novas espécies vegetais.

As lianas, também conhecidas popularmente como cipós ou trepadeiras, habitam as porções mais altas de árvores amazônicas. Ao trazê-las ao solo, as cientistas mapearam novas descobertas sobre a biologia, morfologia e distribuição de espécies até então desconhecidas.

Formada em Ciências Biológicas, Jéssica começou estudando a ecologia das lianas ainda na faculdade, passando a trabalhar no que resultou em sua pesquisa de mestrado a partir de 2014. “A intenção do meu trabalho era pegar um grupo pequeno de plantas para que eu tivesse tempo suficiente para estudar todos os detalhes sobre sua sistemática, evolução e biogeografia”, relembra ela.

O artigo recém-divulgado, o terceiro de quatro publicações resultantes do seu mestrado, utiliza o que ela chamou de “uma abordagem integrativa”, ou seja, usa diferentes fontes de evidências para tentar identificar e classificar as plantas de forma “objetiva, estável e transparente”.

“Tínhamos uma história taxonômica bastante confusa, com muitos problemas de identificação [neste grupo de lianas]. Em um dos artigos que resultou da minha tese resolvemos um problema de delimitação do gênero. E agora, neste trabalho, resolvemos diversos problemas com a delimitação das espécies”, conta ela ao salientar que, para esclarecer melhor a classificação e descrever novas espécies, foram usados dados moleculares e morfológicos, bem como uma abordagem filogenética, o ramo da ciência que estuda a história evolutiva dos grupos taxonômicos.

Conforme a professora Lúcia, cuja especialização é em sistemática vegetal e que tem trabalhado com essa mesma família de plantas (as bignoniáceas, grupo que inclui lianas, ipês e o jacarandá) desde 1993, as lianas são um grupo particularmente complicado por ficarem na copa de árvores altas na floresta amazônica e serem pouco coletadas. Com cerca de 400 espécies de lianas catalogadas, sua pesquisa foi capaz de montar uma árvore filogenética para o grupo. “Meu objetivo era usar dados moleculares e morfológicos para definir gêneros bem caracterizados, já que a identificação era muito difícil. Durante minha pesquisa de doutorado, finalizada em 2003, organizei a classificação genérica do grupo e reconheci 20 gêneros que acomodavam as 400 espécies do grupo”, relembra ela.

Ao chegar à USP, em 2004, Lúcia passou a orientar alunos do IB que vêm estudando cada um dos 20 gêneros com um grande detalhamento. “O trabalho da Jéssica é um desses”, revela.

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