F20 Climate Solutions Forum: financiamento climático vai além de meio ambiente e engloba desenvolvimento de cidades mais resilientes
Fórum mobiliza a formação de novas alianças, o compartilhamento de conhecimento e a ampliação da voz da filantropia
Discutir o financiamento climático implica necessariamente pensar em cidades. A mensagem foi destaque no primeiro dia do F20 Climate Solutions Forum (CSF), evento anual da Foundations 20 (F20), realizado nos dias 4 e 5 de junho no Rio de Janeiro, no contexto da presidência brasileira do G20. O debate sobre questões climáticas, especialmente depois da tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, precisa, além dos ecossistemas naturais, envolver também os espaços urbanos. Um olhar que inclui investimento em infraestruturas mais resilientes, trabalho com as comunidades mais vulneráveis e a incorporação dessa perspectiva climática em todas as ações adotadas.
Sob o tema “Responsabilidade em Ação: Construindo Pontes para Parcerias Norte-Sul”, o encontro é organizado pela Plataforma F20, em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (iCS), a Fundação Avina e o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), e tem apoio institucional da Prefeitura do Rio. O papel da filantropia, ressaltou a chair do F20 e diretora de Parcerias e Comunicação do iCS, Alice Amorim, é o de catalisador dos processos, para ajudar a viabilizar soluções que o Estado, o setor privado e a sociedade civil sozinhos muitas vezes não conseguem. Uma espécie de “tecelã de redes”, unindo diferentes pontas deste mecanismo e ajudando os envolvidos a encontrarem as melhores soluções.
“Clima não é apenas uma questão ambiental, mas de desenvolvimento, e precisa ser incorporado ao debate financeiro. É preciso focar no financiamento para mitigação e adaptação dos países menos desenvolvidos. No Brasil, investimentos já previstos, como o Minha Casa Minha Vida e o PAC, precisam ser mais compatíveis à adaptação e à mitigação das mudanças climáticas. É preciso mudar nosso olhar: não é sobre trazer mais recursos, é sobre usar melhor esses recursos, para precisar de menos no futuro, tornando nossos sistemas mais resilientes e eficientes”, afirmou Alice Amorim.
O Fórum reuniu cerca de 300 convidados presenciais no Hotel Prodigy, no Rio de Janeiro, além dos espectadores online. Durante a abertura, foram apresentadas 10 recomendações do F20 como um apelo à ação para os líderes globais. Destinadas aos chefes de Estado do G20, as recomendações refletem o compromisso do F20 em promover a colaboração e a responsabilidade para um futuro sustentável. A abertura contou ainda com a presença, além de Alice Amorim, co-chair do F20, Neera Nundy; da secretária-geral do F20, Katrin Harvey; do chefe de Assuntos Internacionais da Prefeitura do Rio de Janeiro, Lucas Padilha; do diretor executivo da ABONG Brasil, Henrique Botelho Frota; e da cientista Thelma Krug.
Diante de representantes de coletivos que agregam 600 organizações filantrópicas, destacou-se a necessidade de se investir em ciência e em pesquisa acadêmica para desenvolvimento de indicadores também em adaptação que sirvam de base para que os governos compreendam os cenários que vêm sendo enfrentados.
“Queremos compartilhar com vocês uma visão otimista do futuro. Para olharmos a crise climática como uma oportunidade de recriar e reimaginar um futuro mais justo e saudável. Somos a última geração que pode forjar esse novo mundo e temos de trabalhar nesse esforço unificado, incluindo toda a sociedade, com parcerias público-privadas e atores filantrópicos, para mostrar que, com cooperação mútua, podemos navegar esses tempos difíceis”, iniciou Katrin Harvey, do F20.
O primeiro painel do dia, mediado por Juliana Tinoco, da Alianza Fondos del Sur, teve como tema Finanças Sustentáveis e contou com a participação da diretora-executiva do iCS, Maria Netto, e do professor associado de Economia e Finanças da University College London, Dr. Josh Ryan-Collins. Os especialistas refletiram sobre os obstáculos para investimentos em sustentabilidade e trouxeram soluções concretas para financiamento e custo de capital.
“Para alavancar investimentos, é preciso transformar a economia: não só no cenário internacional, mas no doméstico. Capacitar países menos desenvolvidos, para que eles possam desenvolver políticas internas que levem em consideração seus contextos e especificidades. Financiamento climático é muito mais amplo e passa por uma reforma da arquitetura do sistema financeiro. Precisamos coordenar juntos o acesso a todos esses fundos e compreender como destinar esses recursos a cada um dos países, garantindo um amplo acesso mesmo aos mais vulneráveis”, explicou Maria Netto.
Na segunda parte do painel, participaram o codiretor de Conhecimento da Latimpacto, Samir Hamra; a diretora executiva da Rede Comuá, Graciela Hopstein; o head de Sustentabilidade da Itaúsa, Marcelo Furtado. Samir Hamra chamou atenção para os diversos recursos disponíveis no mundo e como cada um deles pode ser mais adequado para determinado tipo de questão – cabe à filantropia ajudar a amarrar esse entendimento.
Também participaram do painel a diretora-geral e chefe de Clima, Diversidade e Consultoria da British International Investment, Amal Lee Amin; a diretora executiva do Fundo de Justiça Ambiental da África do Sul, Lisa Chamberlain; a gerente de Políticas de Finanças Verdes Inclusivas da Alliance for Financial Inclusion (AFI), Laura Ramos; o gerente do Programa de Resiliência e Transição Climática da Fundación Avina, Andrés Mogro; e Ivan Oliveira, representante do Ministério da Fazenda.
Sistemas Alimentares
O último painel do primeiro dia abordou os temas Segurança Alimentar e Mudanças Climáticas. O debate explorou as ligações entre as alterações climáticas e a segurança alimentar, com especial enfoque nos desafios e soluções do Sul Global. O objetivo foi, diante de diferentes perspectivas, ajudar a desenvolver ideias que possam ser levadas adiante pelos grupos de envolvimento do G20. Um espaço para inspirar o surgimento de novas experiências e como um maior envolvimento filantrópico pode ajudá-las a avançar.
O painel debateu a qualidade do alimento produzido e a necessidade de se adotar um sistema mais sustentável e saudável. Dados revelados no painel mostram ainda a forte contribuição e a responsabilidade dos países emergentes na emissão de gases de efeito estufa pelos sistemas alimentares. Segundo o professor da Universidade de São Paulo, Ricardo Abramovay, 68% dessas emissões vêm de países como Brasil, China e Índia. Um problema que exige do Brasil respostas rápidas por meio de políticas públicas.
O professor defendeu ainda uma resposta do G20 a uma das principais emissões de gases do efeito estufa. “O G20 precisa dar uma mensagem clara de desmatamento zero para o mundo. Não é possível que a gente esteja lutando para reequilibrar o clima e continue desmatando. O mundo não precisa desmatar para alcançar serviços ecossistêmicos sustentáveis e produção alimentar saudável”, afirmou Ricardo.
O painel contou ainda com a participação da diretora do Center for Climate & Security, Erin Sikorsky; do diretor executivo do Instituto Ibirapitanga, André Degenszain; da chefe de Impacto de Política e Advocacia no SDG2 Advocacy Hub, Asma Lateef; da representante do Instituto Samdha, Joan Jamisolamin; do gerente sênior de Programas da Porticus, Mike Oliveira; da secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativas do Ministério da Agricultura, Renata Miranda; e da estrategista e implementadora de Mudanças Climáticas da Comic Relief, Allison Robertshaw.
Sobre a Plataforma Foundations F20
A Plataforma Foundations F20 é uma rede de cerca de 80 fundações e organizações filantrópicas de várias regiões do mundo que demandam dos países do G20 maior colaboração conjunta e transnacional em ações de desenvolvimento sustentável. A plataforma constroi pontes entre a sociedade civil, empresas, setor financeiro e grupos de reflexão e política nos países do G20 e outros.
O F20 Climate Solutions Forum tem como objetivo mobilizar a formação de novas alianças, o compartilhamento de conhecimento e a ampliação da voz da filantropia dos países do Sul Global nas discussões do G20. A agenda do evento alinhou-se com as principais questões prioritárias da presidência do G20, com foco em Financiamento Climático Sustentável, Segurança Alimentar e Alterações Climáticas, Adaptação Climática e ODS e Desigualdades.
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