Amazônia

Olhar amazônico é crucial para evitar ponto de não-retorno do bioma

Em evento realizado pela Universidade de Exeter, Patrícia Pinho destacou a relevância da população amazônida para a construção de políticas ambientais.
 

Por Lucas Guaraldo*
 

A Amazônia é central no debate sobre a crise climática e para evitar pontos de não-retorno em escala global e, por isso, é necessário enxergar a região para além dos dados em mapas, adotando uma visão mais humana da floresta. A afirmação foi feita por Patrícia Pinho, diretora-adjunta de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), durante o seminário Global Tipping Points, promovido pela Universidade de Exeter, na Inglaterra.
 

“Precisamos conceituar, dentro da Amazônia e junto aos povos indígenas e comunidades tradicionais, o que são os pontos de não-retorno sociais. É preciso considerar a sequência de eventos climáticos extremos que ocorrem na região, bem como certos setores da economia, como fatores de risco para os povos da floresta. O desmatamento está diretamente relacionado ao aumento da violência e dos conflitos fundiários, por exemplo”, destacou Pinho.
 

Apesar de seu papel para a proteção da floresta, os povos da Amazônia são pouco contemplados nas discussões e políticas públicas voltadas à conservação do bioma. Segundo policy brief publicado pelo IPAM, apenas nove municípios brasileiros possuem legislações sobre adaptação às mudanças climáticas. Esses planos ainda enfrentam obstáculos relacionados à falta de vontade política, à ausência de capacitação técnica dos governos locais e a conflitos de interesse.
 

“A Amazônia, mesmo com sua importância para o clima global, ainda é pouco vista sob o prisma social. É como se existisse um grande vazio observado apenas em termos de biodiversidade. Precisamos mostrar que essas populações existem e que as sementes da transformação positiva do bioma, capazes de retardar ou reverter esse colapso, estão justamente no modo de vida delas. Ao mesmo tempo, essas pessoas são as mais vulneráveis às mudanças climáticas, mesmo sem contribuírem para esse desequilíbrio”, completou.
 

Também participaram da mesa Marten Scheffer, pesquisador e professor da Universidade de Wageningen; Marina Hirota, professora da Universidade Federal de Santa Catarina; Laurie Laybourn, diretor executivo da Iniciativa de Riscos Climáticos Estratégicos; e Gaia Vince, jornalista ambiental do The Guardian e da BBC, que coordenou o painel.
 

Caminho para a COP 30
 

O evento serviu para intensificar as discussões em torno do Global Tipping Points Report 2025. Produzido pelos palestrantes e pesquisadores envolvidos no seminário, o relatório reunirá dados sobre os cenários associados à crise climática global. O objetivo é orientar tomadores de decisão, empresas e governos na compreensão dos riscos e oportunidades relacionados aos pontos de não-retorno. A publicação está prevista para a COP 30, que será realizada em Belém (PA).
 

“Queremos mostrar que a Amazônia está passando por um ponto de inflexão social, além do ambiental. Mas também pretendemos detalhar as oportunidades que surgem quando conseguimos proteger esses territórios e garantir a destinação de florestas a esses grupos. A Amazônia é peça-chave em discussões sobre direitos humanos e proteção das florestas, e, neste relatório, queremos explicar como a crise humanitária da região se conecta com a crise climática”, explica Pinho, que coordena a produção do capítulo sobre a Amazônia.
 

A versão anterior do documento, publicada em 2023, alertava para o risco crescente de danos irreversíveis em diversos ecossistemas do planeta. O colapso de regiões como a Amazônia, a Antártida Ocidental, os recifes de coral de águas quentes e o permafrost — solo permanentemente congelado e com alta concentração de gases de efeito estufa — teria efeitos catastróficos e sem precedentes, alertam os pesquisadores.
 

O grupo também chama atenção para a insuficiência das metas climáticas atuais e defende ações mais ambiciosas, como a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e das emissões associadas às mudanças no uso da terra — como o desmatamento e as queimadas. Entre as medidas essenciais para mitigação e adaptação à crise climática, o relatório destaca a necessidade de proteger comunidades sob maior risco, incluir os pontos de não-retorno nas metas globais e intensificar a pesquisa sobre os diferentes gatilhos de colapso em diferentes regiões.

Mais informações:

Lucas Guaraldo

+55 61 9 9278 7561

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