Voluntários promovem inclusão de teatro, música e skate à rotina escolar em Rondônia

Escolas que, além das disciplinas convencionais, incluam música, teatro, escalada, skate, dança e esporte parece ser o sonho de todo estudante e, em Rondônia, isso se tornou possível este ano através do projeto Amigos Voluntários do Educando. Ao todo, 5.427 pessoas estão inscritas no programa e gradativamente são incorporadas a rede estadual de ensino.

Atualmente, 247 voluntários estão ativos e auxiliam na alimentação escolar, na limpeza e também como educadores sociais nas mais diferentes áreas de saberes. A expectativa da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) é inserir mais 200 em 2018. Eles recebem um ajuda de custo de R$ 27 por dia trabalhado, mas a recompensa maior é ajudar jovens a despertarem o interesse pela aprendizagem e descobrirem seus talentos.

A escola estadual Lydia Johnson de Macedo, em Porto Velho, é uma das 106 escolas contempladas com essa iniciativa no Estado. Lá, o desafio é diferente. Na escola funciona o projeto piloto do programa Asas do Saber do governo de Rondônia, que tem como público-alvo estudantes que haviam abandonado a escola.

Uma desistência provocada por diversos conflitos sociais, como envolvimento com drogas, prostituição, criminalidade e também pelo desinteresse pelo modelo tradicional de educação. E é para deixar para traz a forma tradicional de ensinar que a escola tem inserido os voluntários.

Segundo o diretor Alcir Tavares da Silva, a escola conta com cinco voluntários na área de arte e cultura e outros três no auxílio à alimentação e limpeza. ‘‘A participação deles é muito importante pelo fato de trazerem conhecimento em diferentes áreas que agregam valores na qualidade de ensino. E aqui, como é uma escola com ensino integral, essas aulas fazem com que o dia do estudante seja prazeroso e que ele esteja motivado a estar aqui’’, afirma.

Para o diretor, o projeto Amigos Voluntários do Educando veio somar com o cenário inovador da Lydia Johnson. ‘‘O programa Asas do Saber é inovador em todos os sentidos. A Lydia Johnson agrega o trabalho de pessoas comprometidas, que têm um conhecimento diferenciado e são motivados a trabalhar com jovens com todo tipo de dificuldade social, o que faz com que o ensino aqui seja um sucesso’’, garante.

Um dos voluntários é o agente de limpeza escolar Quelmo da Silva Lins, 36 anos. Ele é formado em Letras, mas o que ama mesmo fazer é música e essa é a disciplina que compartilha com os estudantes da Lydia Johnson. O voluntariado não é uma novidade para ele, que já havia dado aulas em outras escolas. ‘‘Me interessei por este projeto pela vontade de ajudar ao próximo mesmo, porque financeiramente não se compara com o que é pago por instituições particulares’’, disse.

Uma motivação inspirada na própria história de vida. De origem humilde, Quelmo sabe muito bem que são poucas as oportunidades de aprender música com pouco recurso. Ele mesmo estudou guitarra, bateria, piano, técnica vocal e canto lírico em escolas públicas de música. Atualmente, ele divide o tempo entre o trabalho de agente de limpeza pela manhã, o voluntariado à tarde e ainda é músico à noite.

Quelmo conta que o esforço vale a pena ao ver a dedicação dos estudantes. ‘‘Eles são muito esforçados. O que eu peço para eles fazerem, eles fazem mesmo. Em outros lugares não é assim’’, afirma. Com quatro violões e um teclado, os estudantes têm conseguido desenvolver habilidades musicais e inclusive fizeram uma apresentação na escola que deixou o professor orgulhoso.

‘‘Eu sempre incentivo eles a aproveitarem essa oportunidade. Inclusive criei um grupo de WhatsApp para eles tirarem dúvidas, sou um amigo mesmo. Me sinto muito bem em saber que através deste trabalho é possível ter pelo menos dois ou três que decidirão seguir pelo caminho bom, a estudar e até  a ter a música como profissão’’, disse Quelmo.

O ator João Alfredo Seubert, 55 anos, compartilha os cerca de 25 anos na carreira de Artes Cênicas com os estudantes. Natural do Rio de Janeiro, João disse que vê nessa iniciativa uma oportunidade de aproximar os estudantes com essa área profissional. ‘‘Eu estava sem emprego há seis meses e vi nesse projeto a chance de ajudar esses adolescentes, além de fazer o que gosto, que é o teatro’’, conta.

No Rio de Janeiro, Seubert já fez parte do elenco de atores de uma das grandes emissoras nacional e também no teatro. ‘‘Lá tinha até que dispensar serviços, mas vim para cá por questões familiares e vi que o incentivo a cultura por aqui é mais devagar’’, aponta. Para ele, essa iniciativa do governo em inserir essas disciplinas diferentes nas escolas é uma medida com um grande significado.

O acadêmico de Sistema de Informação Silvio Brenner, 21 anos, decidiu conciliar o estágio com o voluntariado. ‘‘Eu soube do projeto pelo facebook, então como vi que o horário para ser voluntário era à tarde, pensei que dava para encaixar com o estágio pela manhã e a faculdade à noite’’, disse.

Enquanto as aulas de skate não iniciam, Silvio aproveita para dar aulas de informática. ‘‘Está sendo muito bom. Eles realmente prestam atenção na aula e o mais gratificante é quando a aulas acabam e eles me procuram para ter mais esclarecimento sobre algo que ensinei’’, afirma.

A informática é temporária porque Silvio tem mesmo a missão de ensinar mais sobre o skate. O que ele vai fazer assim que toda a estrutura para aula estiver pronta. ‘‘Skate e patins são meu hobby, pratico desde os 15 anos e quando vi a oportunidade em transformar o meu hobby em uma forma de trabalhar e ajudar outras pessoas, para mim foi ótimo’’, disse.

Inserir o skate na escola para Silvio é um iniciativa inovadora e positiva. ‘‘Poder dar aula de skate é bom porque se desmarginaliza um pouco este esporte. O máximo de habilidades que a gente conseguir passar aqui dentro, é melhor do que o que eles aprendem lá fora. Aqui eu sinto que estou fazendo o que eu queria que tivessem feito por mim. Eu queria ter tido aula de skate, eu estou dando para eles o que eu queria ter tido’’, afirma.

O educador físico Elso Lima, 44 anos, é formado em Administração e Educação Física, fez curso em várias áreas como bombeiro civil, escalada, rapel e salvação aquática. Tem ensinado handebol aos estudantes e aguarda para começar as instruções sobre escalada. Ele procura sempre mostrar através do próprio exemplo que o esporte pode transformar vidas. ‘‘Essas duas faculdades que eu fiz eu tive 70% de desconto por representar as faculdades jogando handebol’’, conta.

Elso treina handebol desde a 7º série do Ensino Fundamental e faz questão de mencionar o seu grande incentivador, o professor Armando Trajano. ‘‘Eu sou o que eu sou hoje graças a ele’’, afirma.  Para Elso, os estudantes estão mostrando interesse pelas aulas. ‘‘Quando a gente se reúne, sempre acontece deles terem muitas perguntas’’. Para ele, o voluntariado faz a diferença na escola. ‘‘Com esse projeto a escola só tem a crescer, só tem a ganhar’’, avalia.

Lucíola Freitas, 36 anos, é formada em Turismo e auxilia como voluntária na cozinha da escola. Desempregada há mais de um ano, ela viu no projeto mais que uma ocupação profissional, mas sim um novo desafio. ‘‘É uma escola nova, que está começando do zero e eu gosto muito de começar do zero porque assim a gente cria junto. É uma experiência gratificante’’, afirma.

Ela ressalta os impactos positivos de ser voluntária. ‘‘A gente coloca na panela não só a comida, mas o amor, a doação que é o sentido verdadeiro do voluntariado. Eu posso estar desempregada e financeiramente desestruturada, mas emocionalmente quando você se doa, você se reequilibra’’, afirma.

NOVOS SABERES

Para os estudantes do 1º ano do Ensino Médio João Pedro Gonçalves Alho, 18 anos, Sandryele de Almeida Nascimento, 19 anos, e Caled Cauê M. Alves, 18 anos, o trabalho desenvolvido pelos voluntários têm sido muito importante para que eles tenham oportunidade de desenvolver diferentes habilidades.

‘‘É uma coisa bem diferenciada, porque nas escolas comuns com ensino regular de um período os estudante só vão mesmo para ter o diploma. Agora, quando a escola tem essas disciplinas diferentes, possibilita que o adolescente possa desenvolver uma carreira profissional’’, considera João Pedro.

‘‘Está sendo bem diferente. Em outras escolas não têm essa estrutura para que possamos aprender sobre várias habilidades. Pra gente, isso tudo é bem novo. O que estamos aprendendo aqui levaremos para o resto da vida’’, avalia Sandryele.

‘‘A escola se tornou mais atrativa porque em outras não existe tantas modalidades esportivas para praticar e aqui tem vôlei, futsal, basquete, handebol e vamos ter escalada, skate. Bom para quem gosta de fazer esporte; e para quem não gosta tem as outras modalidades como dança teatro, cinema. E os professores voluntários têm bastante paciência para nos ensinar e explicam muito bem, principalmente o professor de handebol’’, conta Caled.

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Fonte
Texto: Vanessa Moura
Fotos: Daiane Mendonça
Secom – Governo de Rondônia

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