Novos estudos investigam a influência da Lua em nosso sono e no ciclo menstrual

A Lua costuma ser um dos objetos mais fascinantes do céu noturno. Quando visível, nosso satélite natural está sempre em destaque em meio às estrelas, mesmo em fases de menos destaque. Suas fases, por sinal, até hoje inspiram lendas, superstições e mitos. Entre essas histórias, há quem recomende que se corte o cabelo apenas na Lua crescente, por exemplo. Mas, afinal, há algo de científico nessas crenças? Será que Lua é capaz de nos afetar, tendo impacto em nosso sono ou até mesmo no ciclo menstrual?

Uma coisa que a ciência já comprovou é que a Lua, ao longo de seu movimento ao redor da Terra, tem influência direta nas marés dos oceanos. Isso é explicado pela intensidade da atração gravitacional da Lua sobre a Terra ao longo de sua órbita, que é elíptica — ou seja, há momentos em que a Lua está mais próxima da Terra e momentos em que ela está mais distante, e há momentos em que a Lua está alinhada com o Sol; nesses, a atração gravitacional de ambos se soma, “puxando” as águas e, consequentemente, causando ainda mais elevação no nível do mar. O movimento da Lua ao redor da Terra (lembrando que também estamos, juntos, em movimento ao redor do Sol) explica por que em algumas fases a atração gravitacional causa mais ou menos impacto nas águas do nosso planeta.

Agora, pesquisadores de diferentes países buscaram evidências na tentativa de verificar se esse movimento (e até mesmo o luar) poder ser capaz de alterar o comportamento dos humanos, ou ainda o funcionamento de seu organismo.

Lua e a hora de dormir
Em busca de pistas de que os ciclos lunares podem afetar o sono humano, uma série de pesquisadores se juntaram e publicaram um estudo na revista Science Advances. Entre os acadêmicos, estavam membros da Universidade de Washington e da Universidade de Yale, ambas nos Estados Unidos, e ainda da Universidade Nacional de Quilmes, na Argentina.

Segundo o estudo, as pessoas tendem a dormir mais tarde e dormir menos horas nos dias que antecedem a Lua cheia. Para chegar a essa conclusão, a equipe acompanhou, de forma remota, estudantes universitários em Washington, e também moradores de comunidades indígenas no norte da Argentina. A diferença entre os grupos foi intencional: um maior acesso à eletricidade (e consequentemente à luz artificial) poderia reduzir, eventualmente, a dependência da Lua como modeladora de comportamentos.

“Vemos uma modulação lunar clara no sono, com o [período de] sono diminuindo, e um início mais tarde do sono nos dias que precedem a Lua cheia”, explicou o autor principal do estudo, Horacio de la Iglesia, também professor de biologia da Universidade de Washington. “E embora o efeito seja mais robusto em comunidades sem acesso à eletricidade, o efeito está presente em comunidades com eletricidade, incluindo alunos de graduação da Universidade de Washington”, completou.

Uma das explicações seria que essas noites tinham mais luz no céu após o anoitecer, já que a Lua crescente fica cada vez mais luminosa nos dias que antecedem a Lua cheia.”Nossa hipótese é que os padrões que observamos são uma adaptação inata que permitiu que nossos ancestrais tirassem proveito dessa fonte natural de luz noturna, que ocorre em um momento específico durante o ciclo lunar”, aponta outro autor do estudo, Leandro Casiraghi, pesquisador do departamento de biologia na Universidade de Washington.

Se, por um lado, a Lua poderia impactar a quantidade de horas dormidas, por outro as conclusões não apontam para um processo que afeta, diretamente, o organismo humano, como se a atração gravitacional da Lua transformasse algo em nossos corpos. O que se verificou foi como a disponibilidade de uma luz natural à noite pode influenciar determinados hábitos noturnos, ainda mais em comunidades distantes dos centros urbanos.

“Esse padrão pode representar uma resposta à disponibilidade de luz da Lua durante a primeira metade da noite para comunidades com acesso limitado ou nenhum acesso à luz elétrica. A amplitude do efeito da fase lunar nos parâmetros do sono parece ser mais forte quanto mais limitado for o acesso à luz elétrica”, ressaltam os pesquisadores no artigo. Mas talvez o mais curioso seja que esse padrão também pode ser observado, ainda que em menor grau, em regiões com amplo acesso à luz artificial.

Para chegar a essas conclusões, a equipe de pesquisadores monitorou os voluntários a partir de dispositivos portáteis que monitoram o sono — especificamente, um relógio Actiwatch Spectrum Plus, da Philips —, também fazendo questionários individuais. No total, foram avaliados 98 indivíduos que habitam comunidades indígenas e outros 464 estudantes universitários dos EUA.

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