Raquel Dodge diz que falta de liberdades tolhe pluralidade e senso de comunidade
“A educação pública sem qualidade diminui a oportunidade de acesso a trabalho e à compreensão da própria dignidade da pessoa humana. Serviços de saúde precários abreviam vidas criativas, afetuosas e que ainda contribuiriam para o bem das pessoas. A falta de liberdades de religião, de reunião e de associação e de uma vida segura na cidade e no campo tem tolhido o sentido de comunidade e de pluralidade que tanto orgulhavam os brasileiros”, afirmou Raquel Dodge, durante discurso na cerimônia de entrega do prêmio.
A procuradora-geral destacou que deve ser saudado o aumento da intolerância com a corrupção e com a ineficiência na gestão pública no Brasil. “Saúdo esta intolerância como uma novidade muito importante na vida pública brasileira. As pessoas estão cada vez mais atentas ao que acontece com o patrimônio público. As pessoas têm consciência de que o patrimônio público é formado com dinheiro de impostos, e têm consciência hoje de que há uma relação direta entre o bom uso do dinheiro público e os serviços que são prestados pelo estado pela população. Cada vez que o dinheiro público é desviado, significa que há precariedade no serviço público prestado. As pessoas estão compreendendo cada vez melhor e isso deve ser saudado com alegria. Afinal, zelar pelo patrimônio público não é só um trabalho do Ministério Público e da Justiça. É um trabalho de cada um de nós cidadãos”, concluiu, em entrevista, após a cerimônia.
A procuradora-geral disse que a sexta edição do Prêmio Patrícia Acioli reconheceu, entre outros trabalhos, o empenho de pessoas que estão lutando pela reabilitação de jovens, tratamento para mulheres e seus filhos em prisões e, ainda, deram vozes a minorias. “Tenho certeza de que futuras edições continuarão honrando o trabalho dessa corajosa juíza que foi Patricia Acioli. É uma memória que temos que reverenciar”, completou.
O Prêmio Patrícia Acioli é destinado a iniciativas que contribuem para a sociedade e nesta sexta edição houve trabalhos finalistas de dez estados do país, em quatro categorias relacionadas ao tema Direitos Humanos e Cidadania: Reportagens Jornalísticas, Trabalhos dos Magistrados, Práticas Humanísticas e Trabalhos Acadêmicos. A premiação foi criada em 2012 e recebeu o nome em memória da juíza Patrícia Acioli, da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo (RJ), morta no ano anterior, em Niterói, por policiais militares. A juíza havia condenado 60 PMs ligados a milícias e grupos de extermínio.