Brasileiros com doenças crônicas encontram medo e problemas para frequentar hospitais
Desde o início da pandemia em março deste ano, uma questão importante tem preocupado a comunidade médica: a queda na procura por atendimento para outras doenças. Por medo de contágio, pacientes com comorbidades deixaram de procurar hospitais, frequentar consultas e tomar seus medicamentos.
Problemas crônicos como diabetes, pressão alta, e outras enfermidades como câncer e doença cardíaca não podem ter tratamento interrompido. O fato é que esses problemas não esperam a pandemia acabar, o tratamento deve ser contínuo.
Dentro das condições de higiene e cuidados estabelecidos, pacientes devem continuar frequentando consultas periódicas e jamais interromper a medicação sem orientação médica. Com a regulamentação da telemedicina durante a pandemia muitos médicos têm tratado pacientes conhecidos de modo on-line, especialmente quando o serviço é particular. Porém, por conta da pandemia e lotação dos hospitais, pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) se sentem inseguros de buscar por atendimento.
Foi registrado uma redução de 70% nos atendimentos de enfarte comparando os meses de abril desse ano com o ano passado. As informações são da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI).
Isso preocupa os cardiologistas, pois pode aumentar o número de mortes por infarto. O medo de contrair o vírus tem afetado esses atendimentos, mesmo quando o paciente tem sintomas. É importante relembrar que pessoas com histórico de problemas cardíacos fazem parte do grupo de risco e não devem negligenciar seus tratamentos.
A instituição criou a campanha “O enfarte não respeita quarentena”. Portanto, em caso dos seguintes sintomas é preciso procurar o hospital imediatamente: sensação de cansaço ou fraqueza, náuseas ou vômitos, suor excessivo e dor no peito que pode alcançar o braço, ombros e pescoço.
Na área da oncologia os números também assustam. Houve uma queda de 80% nos exames de diagnóstico em diversas regiões do país. Se no início da pandemia era indicado permanecer em casa e procurar os hospitais apenas em situações de emergência, atualmente se faz necessário recomendar a manutenção dos exames periódicos para prevenção e tratamento precoce em caso de descoberta da doença.
Um estudo inglês indicou que a mortalidade causada por câncer pode aumentar 20% durante a pandemia. Ou seja, pessoas diagnosticadas com câncer têm mais chances de terem complicações devido ao novo coronavírus.
Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) levantou uma queda de 75% na procura por atendimento do câncer de mama. A pesquisa comparou os meses de março e abril do ano passado e desse ano e abrangeu 11 hospitais públicos do SUS nas principais capitais.
Porém, a sequência do tratamento não depende só da vontade do paciente. Outro levantamento on-line feito pelo Instituto Oncoguia, revelou que 43% dos 566 entrevistados tiveram o tratamento afetado. Entre os principais problemas os pacientes tiveram procedimento cancelados, adiados e enfrentaram dificuldade em agendar consultas.
O tratamento dessa doença não pode esperar, especialmente nos casos mais graves em que o paciente esteja acamado. Mesmo que o oncologista considere que é mais seguro não estar em ambiente hospitalar e permita que o paciente permaneça em casa, com um cuidador e estrutura, como cadeira de rodas e maca portátil para poder sair de um único cômodo e pegar um sol, é essencial manter as consultas em dia.
Se o tratamento for interrompido por meses, pode haver uma regressão significativa nas conquistas alcançadas e até mesmo levar o paciente a óbito.
Câncer e problemas cardíacos não são as únicas preocupações. Diabetes e pressão alta também merecem atenção especial durante a pandemia, especialmente porque pessoas com essas doenças crônicas fazem parte do grupo de risco. Uma a cada quatro pessoas sofre de hipertensão e cerca de 40% dos pacientes que foram a óbito por causa do coronavírus eram diabéticos. Portanto, mais do que nunca é necessário manter as consultas e medicamentos em dia.