Consolidação do mercado da castanha é tema de encontro nacional em Manaus

Produto, que movimenta mais de R$ 2 bilhões por ano no Brasil, ainda enfrenta muitos gargalos em sua produção


O fortalecimento da cadeia produtiva da castanha e a consolidação do produto como fonte de renda sustentável para os povos da floresta foram pautas de debates do 1º Encontro Nacional de Castanheiras e Castanheiros, que aconteceu semana passada em Manaus. Promovido pelo Coletivo da Castanha e pelo Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA), o evento contou com a presença de mais de 150 representantes ambientais e de organizações comunitárias, como o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).

“A cadeia da castanha historicamente não era a mais importante no início da ocupação da Amazônia, era mais utilizada como alimento para as famílias. Ela passou a ter uma importância dentro do mercado já na metade dos anos 1970. Infelizmente, ainda vemos um processo desorganizado de produção, por isso esse encontro foi importante como ponto de partida para buscarmos essa estruturação”, destaca o presidente do CNS, Júlio Barbosa.


“Trata-se de uma meta extremamente desafiadora promover o benefício socioeconômico e sustentável da produção comunitária da castanha, alinhada com a conservação da floresta”, completa.

Potencial de mercado o produto tem. O presidente do CNS deu como exemplo um conhecido que está fazendo doutorado em Portugal, que disse ter encontrado um pacote de castanha para vender em um supermercado de Lisboa ao preço de 30 euros. “Então eu acho que temos uma meta extremamente audaciosa, mas extremamente necessária na medida em que nós temos na Amazônia dezenas de experiências de organizações comunitárias onde o produto é valorizado, não só do ponto de vista de melhorar a qualidade de renda e de vida da população, mas também de começar a fazer com que o produto seja recebido e aceito por quem realmente o consome”, explica Júlio Barbosa.


A castanha movimenta mais de R$ 2 bilhões por ano no Brasil. Somente em 2020, o país produziu mais de 33 toneladas do produto em um trabalho que envolve mais de 60 mil pessoas de povos e comunidades tradicionais do País, em ao menos 127 organizações comunitárias. A produção nacional é proveniente, essencialmente, do extrativismo em áreas protegidas. Atualmente existem aproximadamente 60 empresas de beneficiamento e comercialização do produto.


“Nosso debate foi muito importante para entendermos essa cadeia, assim como também identificar as dezenas de gargalos que ainda estamos vivendo na produção – apesar do avanço das nossas organizações – apontando caminhos para o crescimento”, finalizou Júlio Barbosa.


Histórico e importância


A relação castanheira-extrativista faz parte das culturas de inúmeros povos e comunidades tradicionais da Amazônia há milênios. Indígenas, quilombolas e ribeirinhos são os principais responsáveis pela coleta desse fruto que é parte das tradições e modos de vida dessas populações.

A castanha-da-amazônia, do-pará ou do-brasil, é fundamental para a conservação da Amazônia. Com produção proveniente quase exclusivamente do extrativismo, a castanha e o castanheiro compartilham extensos pedaços de terra na floresta e, para realizar a coleta, são necessárias grandes áreas de floresta conservada, onde se encontram os castanhais.

A castanheira tem no extrativista um aliado. Ao mesmo tempo em que ele coleta e dispersa as sementes, realiza também um trabalho de vigilância e gestão territorial, percorrendo grandes distâncias e protegendo seu território contra a grilagem de terras, desmatamento, queimadas e outras ameaças.


“É o momento da gente se unir, da gente refletir. É o momento de pensar que não há castanha se a gente não tiver uma vitória. Então vamos lutar, vamos manter o nosso território, fortalecer o nosso povo. Vamos juntar o nosso povo, não somente os ativistas, mas os indígenas, os quilombolas, os povos da floresta para defender nossos territórios”, afirmou Silvia Elena, secretária de Direitos Humanos do CNS.

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