Excesso de telas na infância pode prejudicar saúde na vida adulta
Estudo mostra associação entre horas assistindo TV quando criança e síndrome metabólica no futuro; uso de múltiplos dispositivos desde cedo preocupa especialistas
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
O excesso de telas na infância pode ter impactos a longo prazo, aumentando o risco de desenvolver síndrome metabólica – um conjunto de condições que aumentam o risco de doença cardíaca, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e diabetes – na vida adulta. O alerta é de um estudo feito por cientistas neozelandeses que acaba de ser publicado no periódico científico Pediatrics.
Os pesquisadores concluíram que quanto maior o número de horas diante da TV na juventude – independentemente do tempo que costumavam ver televisão na idade adulta – maior o risco de desenvolver síndrome metabólica, avaliada a partir de alterações na pressão arterial, glicemia, altas taxas de triglicérides, colesterol e excesso de circunferência abdominal.
Os comportamentos sedentários estão associados à obesidade e ao condicionamento físico ruim, mas, segundo os autores, faltavam estudos de seguimento por um longo período. Para suprir essa lacuna, eles acompanharam um grupo de quase mil voluntários nascidos entre 1972 e 1973 até completarem 45 anos. Durante uma década, dos cinco aos 15 anos, eles e seus pais responderam periodicamente a questionários sobre a quantidade de horas que assistiam TV por dia, o tempo dedicado à prática de atividade física, o status socioeconômico, entre outras informações. Posteriormente, repetiram a enquete aos 32 anos de idade.
Os que assistiam mais de três horas diárias eram mais propensos a ter a síndrome. Essa diferença persistiu mesmo após ajustar dados sobre atividade física. Embora reconheçam que não há como estabelecer uma relação de causa e efeito, os pesquisadores sugerem que há um período sensível na vida com consequências no futuro.
“Não existe uma clareza de causa e consequência direta, pois isso pode ter acontecido por questões comportamentais associadas ao hábito de ver televisão, como sedentarismo, alimentação de pior qualidade, exposição a mais tempo de propaganda, menos contato com outras crianças e exposição à luz natural”, diz a pediatra Debora Kalman, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Mas estamos aprendendo que existe uma memória metabólica que permanece para a vida adulta”, completa.
Má alimentação diante das telas
Segundo o artigo, comportamentos sedentários estão relacionados a uma maior ingestão energética, consumo de alimentos calóricos e bebidas açucaradas. “Tudo isso favorece o aumento de obesidade, que pode provocar uma mudança na taxa metabólica basal e na distribuição de gordura corporal levando a uma reprogramação metabólica que pode persistir na vida adulta”, diz a especialista.
As crianças acompanhadas no estudo não tinham tantas telas à disposição na sua infância como hoje, o que pode potencializar o comportamento sedentário na geração atual. “O tempo de telas de dispositivos móveis são gigantes na população brasileira e já temos estudos associando o tempo a excesso de peso, sedentarismo e doenças mentais ainda na infância e em crianças cada vez mais novas.”
Quanto tempo uma criança pode ficar nas telas?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e as sociedades de pediatria recomendam limitar o uso desses equipamentos. As recomendações sinalizam o tempo máximo, e não o tempo indicado. Sempre que possível, as telas devem ser trocadas por atividades com interação com outras pessoas, atividades esportivas e ao ar livre.
Antes dos 2 anos: zero
Dos dois aos cinco anos: máximo 1 hora por dia e sempre com supervisão
Dos seis aos dez anos: máximo de 1 a 2 horas por dia, sempre com supervisão
Entre 11 e 18 anos: máximo de 2 a 3 horas por dia, considerando telas e videogames, e sempre com supervisão. Os pais não devem permitir que o adolescente passe a madrugada jogando.
Fonte: Agência Einstein